A ânsia de ter e o tédio de possuir
Um conceito que quando você entende muda muito as coisas
A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir.
Arthur Schopenhauer
Durante muito tempo na minha vida a palavra ´´ter´´ me brilhava os olhos, eu achava que o objetivo principal de tudo era conquistar, possuir bens contáveis e me encher de uma felicidade que só o consumo pode te proporcionar, a falsa felicidade finita.
A felicidade que o dinheiro compra, mas não conquista
You like my hair?
Gee, thanks, just bought it
I see it, I like it, I want it, I got it, yeah
Ariana Grande- 7 rings
Sempre me ensinaram que dinheiro era um objetivo de vida e que tê-lo é ter poder, porque tudo e todos tem um preço. Isso é uma verdade incontestável já que nos dias de hoje o mundo capitalista está interessado apenas no que você pode oferecer, por isso pessoas acordam às 5h pra pegar um metrô lotado, por isso ônibus parecem jaulas e por isso que a vida te ensina a entrar em um mercado de trabalho que nunca querem que você saia, viver é estar sujeito a existir em uma realidade que não te vê como pessoa. Eu não tenho propriedade pra falar do mundo coorporativo, muito pelo contrário, eu não vivi 1% de tudo que ainda vou, só que eu percebo em muita gente da minha idade essa ânsia de conquista que é alimentada pelas trends e piora todo dia, muita gente demora tempo demais pra perceber que existe mais na vida do que ter, porque elas esquecem de ser. Papo furado né? A realidade é muita diferente, pois na prática não ter é estar perdendo e sendo pisado enquanto anda pra trás, buscamos muito o sentimento de pertencimento e isso faz parte da humanidade. Não estou dizendo que ter é ruim ou errado, só que quando se entende que existe a ânsia de ter, se para pensar: ´´será que eu realmente preciso/ quero isso?´´ e isso evita até muitas frustrações e quebras de expectativa.
Ter não preenche. Eu nunca diria que a Ariana estava errada quando escreveu 7 rings, mas na verdade quando você pode ter tudo que quer e esse se torna o centro da sua vida ela perde o sentido.
Nós gostamos do processo de conquistar, mas quando conquistamos perde a graça.
O que realmente me faz pensar é que esse conceito também se aplica a pessoas, tipo quando você acha que gosta de alguém e quando consegue estar com a pessoa percebe que era só a atração pela conquista da atenção dela, alimentar e amaciar nosso próprio ego como uma necessidade mesquinha e enjoar muito fácil de tudo e todos se fazemos isso com pessoas imagine com coisas. Tem vezes que nem dá pra distinguir o que é real e o que não é.
Shopenhauer define o tédio como “O tédio não é nada além da sensação do vazio da existência” , eu sinceramente nunca me senti tão vazia quanto quando eu tenho algo que eu coloquei expectativa e não trouxe valor algum a minha vida, precisamos nos colocar de verdade nas coisas e para de por exemplo comprar roupas ´´atuais´´ que ficam lindas em uma pessoa e não em nós, isso nos faz achar que nós somos o problema e isso se torna um ciclo infinito de tendência em tendência, quando na verdade só somos pessoas diferentes e que também deveriam se vestir, se portar e possuir coisas diferentes pra não ter que viver no sufoco de procurar sempre uma caixinha nova pra morar e se sentir deslocada sempre. Quando paramos de brilhar pra querer o brilho dos outros?
Os bolsos gordos de dinheiro e a imagem que vem diretamente na nossa cabeça quando pensamos em um empresários são propagandas diárias que a gente vê desde a infância, o lindo e irreal Sonho Americano, a linda e prejudicial Industrialização, êxodo rural, megalópoles, a produção em massa de marcas que matam a originalidade e a originalidade que é vendia por preços exorbitantes. O fato é que o mundo nasce e ao longo da história as pessoa percebem cada vez mais que podem ter mais e mais e infinitamente mais, só que nunca vai ser suficiente porque quando você tiver tudo, ainda vai querer conquistar o nada.
Não posso dizer que não amo a sensação de comprar, mas o impulso de compra sempre acaba me mostrando que na verdade meu objetivo final não era utilizar aquilo e sim ter a satisfação de comprar. Se pensarmos bem não precisamos de muito do que temos. O que me passa pela cabeça é que a vida é mais do que esse mundinho de conquista e aquisição e que eu não tenho a menor vontade de me matar de trabalhar ou ser rica, mas fazer o suficiente pra viver e ter felicidade e satisfação na vida. É cansativo entregar nossos sonhos enormes e ingênuos quando somos números em um gráfico, mas se percebermos pequenas coisas que valem a pena ainda conseguimos encontrar coisas reais e que preenchem de verdade.